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Banco Central mantém Selic em 2% e reconhece inflação maior no curto prazo

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Banco Central mantém Selic em 2% e reconhece inflação maior no curto prazo

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) – O Banco Central manteve nesta quarta-feira a Selic em sua mínima histórica de 2% ao ano após nove cortes consecutivos, conforme esperado pelo mercado, e, num comunicado sem grandes novidades quanto à política monetária, reconheceu que a inflação deve acelerar no curto prazo.

“Contribuem para esse movimento a alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade”, disse o BC.

Ao falar sobre seu balanço de riscos para a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) introduziu uma nova mensagem ao ponderar, quanto à possibilidade da derrocada da economia produzir inflação abaixo do esperado, que a ociosidade está notadamente concentrada no setor de serviços.

De qualquer forma, o BC não mudou a avaliação de que há uma assimetria em seu balanço para o lado altista por duas razões já citadas em comunicado anterior. De um lado, o BC destaca eventual elevação dos prêmios de risco pela frustração com reformas ou por políticas fiscais que deteriorem de forma prolongada as contas públicas. De outro, a autarquia menciona chance de os programas do governo de estímulo ao crédito e de apoio direto à renda durante a crise do coronavírus impulsionarem a atividade para além do esperado.

No comunicado, o BC também repetiu a existência de um pequeno espaço, se algum, para cortar os juros à frente. E reiterou a orientação futura, já divulgada anteriormente, de que não pretende elevar a taxa básica “a menos que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estejam suficientemente próximas da meta” em seu horizonte relevante, que atualmente inclui 2021 e, em grau menor, 2022.

O BC frisou que o chamado “forward guidance” é condicional à manutenção do atual regime fiscal –o qual prevê obediência à regra do teto de gastos– e à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo.

Em pesquisa Reuters, 37 de 38 analistas consultados haviam previsto que a taxa básica ficaria inalterada, com apenas um deles estimando um corte para 1,75%.

Com a decisão, o BC interrompeu um ciclo de afrouxamento monetário iniciado em agosto do ano passado que contou com nove reduções consecutivas da Selic, resultando numa diminuição total de 4,5 pontos.

Em meio a diversas sinalizações públicas do BC de que agora haveria pouco ou nenhum espaço para cortar os juros e que a análise sobre eventual investida nesse sentido demandaria tempo, a manutenção dos juros básicos no atual patamar não foi uma surpresa. As atenções se voltavam nesta quarta-feira para as mensagens da autoridade monetária, que majoritariamente reforçaram o que já havia sido sinalizado antes.

Veja também:  Fed corta a taxa de juros para 0,25 pela segunda vez no ano

INFLAÇÃO

Com indicadores recentes mostrando uma aceleração na inflação, movimento que tem como pano de fundo uma elevação no preços dos alimentos, o BC ajustou seus cálculos para o IPCA.

A conta da autoridade monetária para a inflação em 2020 agora é de alta de 2,1% pelo cenário híbrido, que considera a trajetória dos juros da pesquisa Focus e a taxa de câmbio constante em 5,30 reais. Em agosto, a autoridade monetária via um IPCA de 1,9% para este ano.

Também pelo mesmo cenário, a perspectiva passou a ser de elevação da inflação de 2,9% em 2021 (3,0% antes) e 3,3% em 2022 (3,4% antes).

No início do mês, o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, já havia dito que o BC esperava uma elevação do IPCA nos próximos meses, com a alta recente nos preços das commodities, mas que isso não influenciaria a política monetária diante da avaliação de que o movimento seria passageiro.

A meta de inflação este ano é de 4,0%, caindo a 3,75% em 2021 e a 3,5% em 2022, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. No boletim Focus, as expectativas mais recentes são de inflação de 1,94% em 2020, 3,01% em 2021% e 3,5% em 2022.

Em relação à atividade econômica, o BC seguiu apontando que os indicadores recentes sugerem uma recuperação parcial, acrescentando que essa retomada “é similar à que ocorre em outras economias”.

O BC atualizará suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) no fim deste mês, em seu relatório trimestral de inflação.

Até aqui, a expectativa era contração de 6,4% este ano, mas com viés de melhora. Nesta semana, o Ministério da Economia reafirmou sua estimativa de queda de 4,7% do PIB, ao passo que agentes de mercado preveem um tombo de 5,11% para a atividade.

Quanto ao cenário externo, o BC ajustou sua visão para um ambiente “relativamente mais favorável”, ante leitura anterior de que ele seguia desafiador para economias emergentes.

O Copom, entretanto, ponderou que “há bastante incerteza sobre a evolução desse cenário, frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia da Covid-19”.

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